sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ADMIRÁVEL MUNDO CANINO NOVO


Crônica

 Admiráveis são as mudanças de costumes dos brasileiros, impulsionados por outras sociedades, principalmente a européia, em relação a esses maravilhosos seres, os cães. Ao menos nas grandes cidades, os cuidados com a alimentação, saúde e higiene dos animais e limpeza nas vias e logradouros públicos, quando vão aos passeios com seus cães, os brasileiros são exemplares.

Acerca de vinte anos passados quando morei nas vizinhanças de Paris, presenciei vários acontecimentos curiosos e até repugnantes no tocante à relação dos franceses com seus animais. Nas manhãs de domingo, eu me dirigia a pé à feira livre, no centro da cidade de Poissy, distante mais ou menos um quilômetro do hotel em que morava, e no percurso me deparava com grande quantidade de montículos e montões de fezes caninas deixadas em plena calçada, pelo desleixo,  mau costume e falta de educação dos donos daqueles animais, e não raro lá estava pela via, sinais de pedestres desavisados que ao pisar os horríveis dejetos, arrastavam as solas de seus sapatos a título de se desfazerem de tamanho incômodo, deixando rastros tal como pinceladas artísticas de pintura abstrata.

Em outra oportunidade  num sábado à noite, fui junto a alguns amigos a uma festa popular a qual chamavam por “fete des lojes”, parecida com nossas festas juninas,  na cidade de  San German, distante seis quilômetros, e lá rumamos a uma grande barraca de culinária alemã, com longas mesas onde saboreamos joelho de porco com chucrute, ou (Sauerkraute). Numa mesa visinha à nossa havia um casal que aparentava trinta anos de idade e com eles traziam um grande cão da raça pastor alemão, que tomava assento à mesa entre seus donos e degustava a refeição que cuidadosamente lhe serviam, alem de depois da refeição, a mulher ter pedido ao marido que a fotografasse  abraçada ao cão, o que na minha visão de turista tupiniquim, se constituía em exagero jamais visto, o que nos dias atuais não mais me surpreende.

Certa manhã de sábado eu viajava de trem de Poissy a Paris, um percurso de quarenta minutos, e logo que me sentei vi algo curioso e que me fez pensar,... transgredir não é privilégio de brasileiros; à minha frente viajava uma jovem muito bem vestida, portando várias sacolas e em uma delas estava um cãozinho preto que teimava em por a cara pra fora e era empurrado de volta sob protesto de sua dona que o escondia novamente, tendo isso se repetido várias vezes, pelo que deduzi ser proibido transportar cães nos trens.

Entre nós no Brasil, as transformações são lentas porem contundentes e os costumes suplantam regras e leis; me lembro que há anos passados era terminantemente proibido ter cães e gatos em apartamentos, sendo que os transgressores eram sujeitos a penalidades e multas, e hoje há a inconsistente recomendação para que se transporte o cão ou gato no colo e pelo elevador de serviço, e pelo que tenho visto não é cumprido à risca, transportam às vezes o cão pelo elevador social mesmo! Não sou contra isso, afinal o cão é o nosso melhor amigo. Não tardará o dia em que um parlamentar elaborará um projeto de lei criminalizando por preconceito, maus tratos ou o que o valha aos  síndicos de edifícios que insistirem no cumprimento da determinação.

No Brasil, os produtos, serviços e cuidados veterinários, dentários, psicológicos, festas de aniversário, desfiles e concursos de beleza e talhe racial, etc. estão em franca ascensão, um negócio rentável e em expansão.

Retomando a frase “o cão é o melhor amigo do homem”, lembro-me de que em minha infância, houve um episódio digno de registro. Havia no lugarejo, hoje cidade de Juritís, dois amigos inseparáveis: Zé Caetano e Chico Faustino, companheiros de trabalho, de pescarias e outros entretenimentos entre os quais o de beberem juntos nos bares,o que às vezes desvirtuava em conflito e luta corporal, em que certo dia os amigos se desentenderam e Ze Caetano estava em vantagem, surrando o amigo que apelou pelo seu cão “vira latas”, “pega titiu”! gritou Chico aflito, e o animal avançou feroz, mordendo e sacolejando a nádega do agressor que parou imediatamente com a pancadaria, rumando imediatamente para o pronto socorro em busca de cuidados médicos. Devo ressaltar que o episódio não puzera fim à amizade e ainda deu lição de tolerância aos contendores e o respeito de ambos ao cão  herói.

Recentemente, num domingo à tarde, fui à casa de um amigo e colega de trabalho  que fora acidentado, o Claricio, para visitá-lo e enquanto conversávamos sentados no sofá da sala, eis que apareceu com um aspecto triste e cabisbaixo um caozinho de estatura média e corpo delgado, de cor amarelada, chegando onde eu estava cheirou-me timidamente ao que lhe fiz um afago e tentei agradá-lo, porem fez meia volta e foi-se embora. Claricio disse-me que o cãozinho ao vê-lo chegar à sua casa após o acidente, com o rosto coberto por curativos e um braço engessado não pulou em seu colo como era de costume e ficou recluso em seu canto, triste e não comeu nem bebeu durante dez dias, o mesmo periodo em que Claricio não se alimentou pela gravidade de seus ferimentos. À véspera de minha visita, em que Claricio voltou a se alimentar, o caozinho o secundou bebendo e comendo, tendo ficado seriamente enfraquecido fisicamente pelo amor e  apego a seu dono. Eu fiquei comovido e emocionado com o relato do meu amigo.

Eu sempre me emociono muito ao encontrar uma visinha na garagem do estacionamento do condomínio em que moro, ao sair ou chegar encontro-a com seu cãozinho idoso e obeso que sofre de mal cardíaco e ela sabe por informação do veterinário que seu cão não viverá por muito tempo, ela se emociona e chora ao falar nele com a certeza de que vai perdê-lo.

Dia destes o Nelson, meu amigo e colega de trabalho contou-me algo engraçado e que prova mais uma vez o que eu disse sobre os bons costumes dos brasileiros no tocante ao asseio com seus cães nas vias públicas. Nelson é proprietário de um apartamento em Praia Grande, no litoral sul e pra lá vai aos fins de semana em busca de lazer e fazer novas amizades. Num domingo pela manhã uma senhora sua vizinha disse-lhe: - senhor  Nelson, os trombadinhas de Praia Grande não respeitam mais nem as fezes dos cachorros, acredita que eu ia eu pela calçada com meu cachorro e a sacolinha com as fezes dele quando abruptamente apareceu em desabalada carreira um deles que arrancou de minha mão a sacola,  dobrou a esquina e desapareceu. Ainda gritei ao rapaz, isso são fezes de cachorro, é lixo! porem ele não me ouviu, tal o ímpeto da ação delituosa que acabara de praticar. Imagino a frustração dele ao conferir o produto do roubo!

Minha irmã Rosa, falando-me sobre seu convívio com suas duas cadelas, disse ser a Mag, uma labrador já idosa, muito disciplinada, que não faz suas necessidades fisiológicas na rua ou em qualquer lugar que não seja o seu espaço no fundo do quintal em hipótese alguma; já a Nic, uma vira latas, de pequeno porte e mais jovem que a outra e recebe os mesmos cuidados, é completamente indisciplinada e não assimila as lições de adestramento.

Recentemente, uma segunda feira muito fria, às seis horas da manhã, ao descer pelo elevador em direção à garagem, estava um jovem casal de moradores de um andar superior ao meu com seu cão, não sei qual a raça, só sei que tinha porte médio e era branco como uma pluma e tremia muito nos braços da jovem e eu disse-lhes: - ele deve estar com frio, - estava   realmente muito frio. A jovem me disse, não é isso, ele sabe que vai ao pet shop e tem muito medo de lá. Pensei, ... esse cão precisa é de tratamento psicológico, porem creio ser ainda no Brasil, limitado esse cuidado aos cães, ou quem sabe o jovem casal é quem precisa de ajuda psicológica para melhor se relacionarem com seu cão, ou buscarem a ajuda de “O encantador de cães”, Cesar Millan, o mexicano de Culiacán radicado Los Angeles nos Estados Unidos, o fundador do centro de psicologia canina e autor de varios DVDs e livros dedicados à felicidade dos cães e seus felizes proprietários.