A
FIGUEIRA E O COLIBRÍ
Crônica
Desde a
infância sou fascinado pela figueira, árvore que se destaca das demais em
variadas nuances. A começar por ser uma das poucas árvores do conhecimento
popular citada nos textos Bíblicos, a figueira é talvez a única que quando
nasce, tem como hospedeira uma árvore morta, um tronco rente ao chão em estado
de decomposição, uma casa abandonada deteriorada pelo tempo ou qualquer tipo de
construção em ruína; entre as fendas de uma rocha ou de concreto armado de
velhas pontes ou viadutos, calçadas e muros depreciados pelo tempo e descuido,
ou até em árvores em pleno vigor ou palmeiras a produzir frutos. Há uma dessas
palmeiras a qual chamamos no popular por coquinho doce, cujo nome próprio é
“Gerivá”, que fora plantada ha quase vinte anos no quintal da casa de minha
mãe. Creio ser essa a única palmeira no raio de alguns quilômetros a produzir
frutos e atrair periquitos, maritacas e outros pássaros, para nossa alegria,
além de curiosamente ha uns quatro anos ter-se tornado hospedeira de uma
figueira que hoje mede cerca de um metro e meio de altura, agarrada ao tronco
há cinco metros do chão, com suas raízes como filamentos em direção à terra.
A figueira
adulta é a mais exuberante das árvores da Mata Atlântica brasileira. Ela tem tronco
de grande diâmetro, galhos enormes, folhas grandes em formato oval, copa
achatada que chama à atenção as pessoas por destacar-se das demais árvores na
floresta. Também atrai grande variedade de pássaros, com seus frutos, os figos,
quando maduros. Há uma dessas árvores que ficou sob meus cuidados desde que
nasceu agarrada ao tronco de um pé de manacá que havia no quintal da casa de
minha mãe, até que ao atingir meio metro de altura, mudei-a para um vaso
plástico, regando e adubando-a até atingir um metro, quando a replantei num
grande parque, o Parque dos Pássaros, de formato quadrado, com cerca de 20 mil
metros quadrados, gramado, com algumas árvores mal cuidadas e circundado por
mansões suntuosas.
Tive o
cuidado ao plantá-la, de arrancar a grama num circulo de meio metro, adubando e
regando-a no periodo da seca, até que um dia ao visitá-la, já com um metro e
meio de altura, encontrei-a caída sobre a grama com o tronco cortado até o
meio, pela roçadeira dos trabalhadores da manutenção do parque. Ela ainda
estava verde apesar do maltrato sofrido. Voltei imediatamente à casa em busca
de ferramentas, algumas estacas de madeira e fitas finas de plástico com o que coloquei-a de pé, fiz atadura na
parte cortada e circundei seu tronco com restos de construção, blocos de
concreto e pedras de modo que as roçadeiras não mais a atingissem. Dentre as
nuances de que falei no início, está a
de que minha figueira difere das demais no aspecto físico, ela tem o porte das
coníferas, com três metros de diâmetro na parte inferior dos galhos, uns seis
metros de altura, assemelhando-se a uma árvore de natal, completamente
diferente das suas irmãs de copas achatadas.
Bem ...a
essa altura hão de perguntar: “E o colibri”? Vamos lá, o colibri tem suas
particularidades e toma parte nessa narrativa, ele é uma das menores aves e tem
o vôo velocíssimo, o maior número de bater de asas de todos os de sua espécie,
se alimenta principalmente do mel das flores, é valente para com os do seu
porte e preferência alimentar, as saíras. Ao colocarmos água com açúcar em
recipientes apropriados para atraí-los, eles expulsam as concorrentes
violentamente, para longe da refeição da qual se sentem donos absolutos. Tive
uma surpresa muito agradável da ultima vez que visitei minha figueira, de longe
vi que seus galhos estavam carregados de frutos e ao me aproximar, vi voar dos
primeiros galhos um colibri e ao olhar para o alto vi preso a um dos galhos o
seu ninho. Ele pousara num dos últimos galhos no topo fugindo à minha presença,
de lá expulsava outros pequenos pássaros que tentavam pousar.
Outra
surpreendente particularidade do colibri, ha alguns anos passados à casa de
minha irmã, Vera Leila, no interior de São Paulo, havia um ninho de colibri
preso ao fio elétrico e junto à lâmpada que pendia do teto da área ao lado da
sala, era inverno e o calor da lâmpada incandescente aquecia a mãe e seus
filhotes, além de que ali estavam livres das aves de rapina. Pudemos ver por
alguns anos seguidos, talvez a mesma mãe utilizando o ninho provavelmente sob
alguns retoques.
Voltando à
figueira, junto ao seu tronco, à sombra, havia uma garrafa de dois litros de
água mineral, certamente de pessoas que fazem caminhada pela calçada que
circunda o parque. Fiquei parado por alguns minutos refletindo no quão
compensadores são nossos gestos de preservar e plantar arvores, e no quanto a
natureza nos traz de retorno, oferecendo os frutos por alimento, os galhos para
abrigar os ninhos e o repouso aos pássaros; a sombra para o descanso, o
conforto e a reflexão para nós,seres humanos.
Grande amigo Enéas, desconhecia essa sua faceta de escritor e muito me alegra saber que por trás do excelente profissional na Schuler habita também essa pessoa sensível e talentosa. Parabéns por esta crônica !!! Vou me tornar leitor assíduo de seu blog.
ResponderExcluirAbraços
CABRERA