domingo, 21 de fevereiro de 2016

CRÔNICA

Ano novo, reminiscências e atualidades.

            Ano novo é dia de celebração, encontros de familiares, parentes e amigos e através deles conquistarmos novos amigos e às vezes propiciarmos novos e duradouros encontros e relacionamentos para toda a vida, quantas histórias terão como ponto de partida esse dia!  Nessa data, todos os humanos despedem-se do ano que finda, desejando e mentalizando que o ano que se inicia seja diferente e melhor em todos os aspectos que norteiam a vida humana. Especificamente nesse ano de 2015, que se finda, não deixará saudades para a esmagadora maioria da população brasileira, pela caótica situação sociopolítica e financeira do país e de seus cidadãos, vítimas de um governo corrupto e incompetente, na verdade, um desgoverno; defensor de uma ideologia populista, do atraso e da perpetuação no poder, em detrimento das instituições e do povo.
            Esta data marca, eu creio, a vida de cada um de nós, num determinado período da vida, ou em mais de um; digo isso porque marcou a minha, aos meus oito anos de idade, eu iniciara naquele ano, 1957, o meu segundo ano escolar. Eu vivia com meus avós maternos, João Bento da Costa e Joaquina Flausina da Costa, em uma chácara de sua propriedade na periferia da pequena cidade de Glicério, na região noroeste do Estado de São Paulo, pois meus pais moravam em fazenda distante, em região desprovida de escolas. Lá permaneci por quatro anos, período correspondente ao quarto ano escolar da época. Naquele tempo, a Ferrovia Noroeste do Brasil funcionava plenamente, eram muitos trens de cargas e de passageiros que passavam diariamente, puxados pelas charmosas, fumegantes e barulhentas locomotivas de origem inglesa, movidas a vapor d’água por combustão de lenha, as “Marias Fumaças”, assim chamadas graciosamente pela população da época. Na pequena e pacata Glicério, (homenagem ao General do Exercito brasileiro, Francisco Glicério, 1846-1916, nascido em Campinas, SP, por ter sido ele importante colaborador na formação da República do Brasil)        daquele tempo, todos se conheciam, desde o proprietário da única indústria da cidade, uma “Serraria” ou Madeireira de grande porte que processava gigantescas toras de peroba vindas do Estado de Mato Grosso; seus funcionários, funcionários da Estação do trem: portadores, manobristas, telegrafistas, o chefe da estação, o senhor Domingos; os poucos comerciantes e toda a população da cidade.
            Eu caminhava radiante ao lado de meu pai, que viera da fazenda com minha mãe e dois irmãos menores, Vera Leila e João Luís, para passarmos o ano novo juntos; íamos para o centro da cidade e a estação do trem era o ponto de parada “obrigatório”, antes de cruzarmos o vale e o riacho rumo ao centro. Meu pai conversava animadamente com dois funcionários da estação e eis que chega o telegrafista Artur Gonzaga Correia,  filho do Bombeiro, como era chamado o responsável pelo abastecimento com água dos reservatórios das locomotivas, o senhor Luiz Gonzaga Correia,  e diante do aspecto de cansaço e cabelos em desalinho do Artur, meu pai disse-lhe: - “ E aí boa vida, que cara enfarruscada é essa”? – “O velho foi”, respondeu Artur. – “Eu sei disso, hoje é ano novo”, retrucou meu pai. – “O velho meu pai faleceu ontem à noite”, enfatizou Artur.  Meu pai surpreso pediu-lhe mil desculpas pelo inesperado e triste fato e fomos ao velório, ante a perplexidade do ocorrido naquele dia de alegrias e comemorações. Esse acontecimento marcou-me de maneira indelével. Bem, os anos se passaram e nenhum outro acontecimento excepcional tomou lugar de destaque em minha memória, que eu me lembre.
            Nos dois últimos anos, comemoramos a data em Caraguatatuba, litoral norte paulista, no condomínio Yatch Club, em companhia de Claudiner e Eliete, compadres, ela irmã de Helena, minha esposa, suas crianças: Caio e Mariana, nós: eu, Helena e André nosso filho de 18 anos de idade. Na véspera do ano novo de 2016, meu concunhado e compadre tinha um passeio a fazer com seu barco, levaria uma família a conhecer várias ilhas no entorno de Ilhabela e esse passeio demandou tempo das nove até às dezesseis horas e por isso resolvemos acompanha-lo até próximo do ponto de embarque e desembarque dos passageiros. Eliete com as crianças, eu e Helena acampamos na praia do Flamengo, uma praia cinematográfica, lindíssima, próxima do saco da ribeira, local de embarque e desembarque dos turistas.
            O dia transcorreu muito bem na praia do Flamengo, aproveitamos a praia, com muitos barcos atracados a certa distancia; comemos e bebemos à sombra de frondosas árvores e não resisti ao ver enormes jaqueiras carregadas de frutos, pedi ao proprietário do local e apanhei três das maiores que encontrei e as levamos para nos  deliciarmos com elas a seguir. Na volta para casa à tarde pude ver por duas vezes ao lado do barco o peixe voador acerca de um metro de altura da água e a uns oito metros distante do barco e em nossa mesma trajetória, para nossa surpresa, pois nunca os tínhamos visto de tão perto.
            Na manhã desse mesmo dia, antes de sairmos para o passeio, fui pro mar próximo do condomínio e retirei um covo, armadilha de arame que deixara de espera na noite anterior, no seu interior estavam cinco enormes caranguejos do mar os quais ao mar os devolvi na tarde do mesmo dia após o passeio de barco.
            Nos intervalos entre a pescaria, o passeio de barco, banhos de mar e passeios pelo bairro, nos acercávamos da churrasqueira e do jogo de truco, regado a cerveja bem gelada, pois o calor era grande; quem não jogava se isolava confortavelmente com seu celular no WhatsApp e outros recursos da internet, algo inimaginável nos idos dos anos 1950, dos meus longínquos oito anos de idade! Qual será a novidade tecnológica daqui a cinco ou seis décadas e quem dos que conosco partilharam  dessa comemoração estará presente para testemunhá-la? Só o correr dos anos mostrará!

                                                                                                     Enéas Antonio Pires        

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